“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era
Deus” (Jo 1, 1). É desta forma que se inicia o quarto evangelho, o de João,
recordando-nos que a palavra é sempre uma força criadora, dinâmica,
libertadora. Cristo é a palavra pronunciada pelo Pai, encarnada no meio de nós,
humanidade vulnerável e mortal, mas ao mesmo tempo, palavra que continua viva a
atual para aqueles que se deixam guiar pelo Espírito. Neste mês em que somos
convidados a refletir, de maneira toda especial, sobre a Palavra de Deus, fico
a pensar no cotidiano de nossa vida, em que a todo o momento a palavra está
presente, se faz presente. Experimentamos no dia-a-dia das relações humanas os
diversos tipos de palavras, algumas que nos enchem de vida e alegria, e outras
que nos entristecem e decepciona. Todas as nossas relações são permeadas por
elas. Como enumerá-las? Palavras de ânimo e fortaleza; luz e sombras; medo e
ousadia; fragilidade e cura; etc. Todas têm um surpreendente poder de nos
tocar, positiva ou negativamente. E claro, cada uma contém o seu próprio sabor!
Somos convidados a pronunciar palavras que constroem, que rompem com o
silêncio da indiferença e com o barulho e confusão das “Babéis” do cotidiano.
Sabemos que a comunicação humana é imperfeita, sempre há ruídos, dissonâncias,
incoerências que impedem um diálogo vivificador. Talvez, a Palavra de Deus
tenha essa força sempre atual e interpeladora, porque tecida nas experiências
humanas marcadas por tantas vicissitudes. Não é uma comunicação qualquer, mas é
algo que realmente tempera a vida daqueles que se deixam tocar por ela, como
bem nos recorda a Escritura: “A palavra de Deus é viva, eficaz e mais
penetrante do que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto onde a
alma e o espírito se encontram, e até onde as juntas e medulas se tocam; ela
sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos” (Hb 4,12).
Como seria bom se a nossa comunicação com o outro sempre fosse um
“Kérygma”, um anúncio cheio de ressurreição, de sabor de vida, como sentiram
aqueles que foram evangelizados pelos apóstolos. Tantas vezes perdemos tempo com “conversa
fiada”, como comumente se diz, e somos incapazes de oferecer uma palavra de
qualidade, que permaneça na memória de nossos interlocutores, e os faça pensar
ou rir, ter esperança e alegria, com a sensação de estar escutando-a pela
primeira vez. Quando conversamos com nossos amigos, vivemos o mistério da palavra,
capaz de se tornar partilha gostosa e prazerosa de nossa caminhada. A palavra
também nos permite sentir a presença, de nos acercarmos de nossos amigos, mesmo
diante das distâncias físicas que nos separam. Impossível não recordar as
palavras pronunciadas pelos amantes, cheias de carinho e afeto, demonstrando
todo contentamento pelo amor vivido juntos.
Benditas são as palavras que se fazem vida em nossas vidas e benditos
somos nós, porque pelo dom da fala, construímos relações, partilhamos a vida, degustamos
o sabor das inúmeras palavras que marcam nossa existência, a amizade, o amor, a
fé, a esperança, a alegria...! Que neste mês de setembro, possamos nos tornar
mais íntimos da Palavra por excelência, a Bíblia, e que deixemos “a boa nova
andar nos campos da nossa existência”:
“O Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo para que eu saiba
reconfortar pela palavra o que está abatido. Cada manhã ele desperta meus
ouvidos para que escute como discípulo”
Is 50, 4
Rodrigo Costa e Evelyn Caroline
Rodrigo, noviço da Província do Rio(CSsR)
Evelyn, noviça da Congregação das
Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor.
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