O tempo atual configura-se cada vez mais como época das
grandes transformações. Mudanças que mostram inegáveis avanços no mundo
técnico, científico, humano e espiritual. Em sua pluralidade de visões, de
manifestações, de culturas a raça humana revela sinais de uma capacidade
impressionante de construir o bem, a fraternidade, a boa convivência em
parcerias variadas. Bendito seja essa era das comunicações, das redes virtuais,
das facilidades de transitar pelo planeta sem tantas dificuldades. Como não
ficar feliz com tamanhas conquistas, com o esplendor das variadas novidades!
Todavia, ingênuo seria aquele que não reconhecesse as
sombras, as dificuldades que amargam a vida em suas facetas mais variadas. A
desigualdade certamente é uma das mais gritantes. Absurdo o que uns acumulam em
detrimento de outros. A distância abissal entre ricos e pobres enfraquece
qualquer projeto de crescimento e de paz. Difícil imaginar um bom futuro se o
racismo é insistente. Mais difícil ainda é assistir as ilusórias campanhas, absolutamente
passageiras, com ares de alegria porque milhões curtiram, em poucas horas, um
gesto, uma foto. No outro dia? Sem nenhuma notícia, a exploração continua
agressiva a espera de mais holofote que elege como digno de brilho alguma outra
postura isolada. Cultura, atitudes não se mudam no final de um dia como
se fosse a roupa do corpo. A conversão exige a lenta formação da consciência. É
empenho de sempre porque o novo pede compromisso, um contínuo gastar a vida.
Um estudioso que conjuga bem filosofia e religião chama esse
cenário de caos-gênese. Momento complexo, entretanto positivo e que interpela o
ser humano a dar novas respostas para seus problemas. Como a lagarta que, num
processo lento, progressivo, paciente, encanta o espaço com o voo de uma linda
borboleta, as mudanças grandes, no coração humano, não podem acontecer apenas
na magia dos espaços virtuais. Elas exigem relações, presença, posturas
existenciais. Necessitam investimento paciente, diário e a certeza de uma
demora geradora. As apressadas promessas de felicidade que insistem em chegar
por todos os lados não são compatíveis com as verdadeiras metamorfoses. O que
os novos cenários parecem esperar é o encantamento pelo milagre que é a vida,
um dom que merece respeito e cuidado.
Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R
Superior
da Província Redentorista do Rio
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