quarta-feira, 9 de abril de 2014

LEGIÃO DE MARIA - LIBERDADE PASCAL


Sem o sopro do criador, o que seria da criatura? Pulsar errante de aspirações sem destino, não mais. No limiar de avanços tão sólidos, dos quais o homem atual dá testemunho, no fundo permanecem os mesmos anseios de sempre. Eles têm cheiro de uma vontade que, em si mesma, não encontra razões suficientes que explicitem o sentido último de tudo. Na pequenez da história, tão miúda, que se esvai com o passar dos dias, dorme a expectativa do que virá depois do horizonte. Sem tal esperança de um depois, o agora ficaria empobrecido, prisioneiro de suas estreitezas, órfão de sentido mais profundo. Sem a confiança na Páscoa, o fim seria um desenho bem absurdo. Ela faz irromper um registro diferente que ilumina a história, fazendo-a germe de boa nova, de um sorriso no meio das dificuldades. Da trajetória do Cristo, concretização do amor, aprende-se que sem o dedo de Deus, a humanidade nem sequer sonhariam o bem. Rompida a amigável relação com o céu, a terra não possuiria fôlego para continuar produzindo seus frutos. Seria apenas pó, acomodada ao fluxo passageiro, sem aspirações maiores. Do mesmo modo, a liberdade humana não seria livre, de verdade, não fosse assumida por uma liberdade amorosa maior.

“Ele vive!” (Lc 24, 5), é o grande aceno pascal. Aquele que faz viver, fonte perene, é alicerce para a construção de laços existenciais sólidos. Quem pode, na morte, fazer viver? Os homens, não, certamente. Apesar de não apresentar certezas científicas, com provas materiais, ela, a ressurreição, é muito mais. Sua força consiste em extrapolar aquilo que é palpável. Exatamente por não ter provas materiais, guarda o que pertence somente a Deus, o dom da vida. Tão forte que desperta no coração humilde, sentimentos de ir adiante. É a instituição da esperança; interlocutora e irmã da liberdade humana. Aquele que vive, faz florescer o amor; fertiliza outras formas amorosas, limitadas, para que cresçam, numa dança alegre ao som de uma música que elas mesmas não possuem. Uma liberdade menor, sem outra liberdade maior teria fronteiras bem restritas. Forma mais plena do bem não haveria se essa que cria e recria, ao atravessar as barreiras do vazio silencioso da morte, não fosse reconhecida e buscada. Sem o encontro com o Outro, interpelador, provocador, a liberdade humana estaria presa em sua autossuficiência finita, ao seguir suas próprias intuições. Estaria satisfeita com o findar existencial imposto pelo frio de um túmulo. Todavia, não! A esperança, dom inquieto, inaugura novas formas de viver porque tem raízes divinas.

De algum modo, não será estranho confessar que o além tem vocação que inspira as buscas cotidianas. As críticas feitas à fé talvez não sejam pela grandeza do que nela se encontra, entretanto pelas formas desordenadas das várias crenças e de seus excessos. A fé em Cristo ressuscitado, por exemplo, eleva a humanidade em dignidade, palavra tão almejada mesmo no senso mais comum. Não aliena; liberta. Suavemente sugere caminho fraterno; exorcismo da violência. Propõe a paz com aquilo que é mais fundamental na vida de todos: a finitude, sem desastrosos desesperos. Elege Deus como instância única a ser reverenciada, não por causa da insignificância da criatura, entretanto pela grandeza que ela possui ao ser porta voz do criador. Do contrário, alguém, algum grupo estaria sempre de prontidão para assumir lugares de mandos absolutos, com as mais plausíveis justificativas. Ressurreição pode significar uma longa estrada de paz, a defesa constante da sacralidade de tudo que existe, desde que acolhido como graça benfazeja.

 Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R.




Um comentário:

  1. Amém!!!
    "Deixemos o amor de Deus nos invadir!!!"
    Feliz Páscoa a todos do "botefeamor"!!!

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