Pai, aqueles que tu me
deste, eu quero que eles estejam comigo (Jo 17, 24)
Amado irmão e irmã,
aproximam-se os dias em que vivenciaremos em Cristo aquilo que experimentamos
no decorrer de nossa vida. Trata-se da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso
Mestre. O mistério de nossa vida ganha sentido quando ampliamos a nossa
capacidade de compreender as relações humanas e captamos que, estando em
comunhão com Jesus, adentramos no santuário sagrado de Deus.
O Tríduo Pascal apresenta
para nós, com intensidade, o drama de toda a vida de Jesus. É Deus quem se
rebaixa à condição humana, conforme nos diz São Paulo na carta aos Filipenses
2, 7-9. Ao assumir a nossa fragilidade, Jesus abraçou as realidades que
enfrentamos no cotidiano e nos ensinou a não fugir das tentações, mas a
enfrentá-las. Nosso Senhor não foi poupado de ironias, sarcasmos e inveja. A
sua profunda intimidade com o Pai lhe possibilitou o equilíbrio emocional para
lidar tanto com os que o desprezavam quanto com os que o amavam de forma
sensata e perspicaz.
Em nosso dia a dia, nos
deparamos com pessoas que nos amam e com outras que não nos amam como
gostaríamos. Os ensinamentos de Jesus acerca do amor sem limites exigem
amadurecimento de cada cristão, a fim de que seja uma pessoa equilibrada como o
Mestre. Essa exigência nos faz pessoas dialogáveis e amorosas. Entretanto,
vendo a realidade ao nosso redor, percebemos que muitos cristãos e cristãs
ainda não experimentaram a Kenosis, ou seja, não assumiram a sua humanidade. Em
termos concretos, assumir a humanidade é reconhecer que somos todos iguais,
independente do sexo, da cor, da cultura etc.
Os dias sagrados da Semana
Santa já não mobilizam mais os cristãos e a sociedade como em tempos passados.
Infelizmente, mais uma vez o culto exagerado ao dinheiro, com suas ofertas
sedutoras, retira as pessoas do recolhimento espiritual e transforma tudo em
festa, consumo e ostentação. Contudo, cada um de nós experimenta, no decorrer
do ano, dias de silêncio, solidão e dor. Isso se dá quando somos discriminados,
injustiçados, desrespeitados, quando nos deparamos com a doença de alguém
próximo a nós ou quando falece alguém que a gente ama muito. É dessa forma que
a Paixão de Jesus é vivida por cada um.
A maior festa judaica e
cristã é a Páscoa. Para os judeus, é a celebração da libertação da escravidão
no Egito; e para nós, cristãos, é a celebração da libertação da morte. Em
Jesus, que se rebaixa à condição humana, inclusive na morte, e morte violenta,
está a nossa grande esperança: a vitória da vida sobre a morte. A ressurreição
é a certeza de que vale a pena nos esforçarmos e até nos sacrificarmos para
gerar e facilitar uma convivência harmoniosa entre as pessoas.
Ao contemplar Jesus de
Nazaré nos dias fatídicos que antecedem a sua morte, deixo um apelo para você:
seja solidário com quem sofre. Busque se colocar junto do Mestre, que serve a
todos sem distinção. Sinta o coração amoroso dele no seu e também a angústia
que lhe perpassou a alma. Penetre com seu olhar a realidade crua do mundo que
conspira contra você, mas não fique paralisado e nem caído debaixo da cruz.
Levante-se de suas quedas, pois você não é perfeito. Busque o perdão, como
Pedro. Não se desespere, como Judas. Sempre existirá um Simão Cirineu para
auxiliá-lo.
Enfim, faço um convite
delicado: esteja com o Cristo onde ele estiver – Jardim das Oliveiras,
sinédrio, prisão, calvário etc. Deus, em sua extrema benevolência e gratuidade,
não poupará meios de estar ao seu lado, onde você estiver, mesmo que você não
esteja mais sentindo, como aconteceu com Nosso Senhor quando foi retirado da
cruz e colocado no colo de Maria, nossa amada mãe do céu. Saiba que, quando
tudo parecer perdido, a luz da passagem para uma vida melhor começará a
brilhar. Sem a escravidão do ser humano, ele estará livre para viver a Páscoa.
Essa liberdade iluminada e redentora é a vida, que começa na terra e se
plenifica na eternidade de Deus!
Pe. Luís Carlos de Carvalho
Silva, CSsR
Nenhum comentário:
Postar um comentário