Sem o sopro do criador, o que seria da criatura? Pulsar
errante de aspirações sem destino, não mais. No limiar de avanços tão sólidos,
dos quais o homem atual dá testemunho, no fundo permanecem os mesmos anseios de
sempre. Eles têm cheiro de uma vontade que, em si mesma, não encontra razões
suficientes que explicitem o sentido último de tudo. Na pequenez da história,
tão miúda, que se esvai com o passar dos dias, dorme a expectativa do que virá
depois do horizonte. Sem tal esperança de um depois, o agora ficaria
empobrecido, prisioneiro de suas estreitezas, órfão de sentido mais profundo.
Sem a confiança na Páscoa, o fim seria um desenho bem absurdo. Ela faz irromper
um registro diferente que ilumina a história, fazendo-a germe de boa nova, de
um sorriso no meio das dificuldades. Da trajetória do Cristo, concretização do
amor, aprende-se que sem o dedo de Deus, a humanidade nem sequer sonhariam o
bem. Rompida a amigável relação com o céu, a terra não possuiria fôlego para
continuar produzindo seus frutos. Seria apenas pó, acomodada ao fluxo
passageiro, sem aspirações maiores. Do mesmo modo, a liberdade humana não seria
livre, de verdade, não fosse assumida por uma liberdade amorosa maior.
“Ele vive!” (Lc 24, 5), é o grande aceno pascal. Aquele que
faz viver, fonte perene, é alicerce para a construção de laços existenciais
sólidos. Quem pode, na morte, fazer viver? Os homens, não, certamente. Apesar
de não apresentar certezas científicas, com provas materiais, ela, a
ressurreição, é muito mais. Sua força consiste em extrapolar aquilo que é
palpável. Exatamente por não ter provas materiais, guarda o que pertence
somente a Deus, o dom da vida. Tão forte que desperta no coração humilde,
sentimentos de ir adiante. É a instituição da esperança; interlocutora e irmã
da liberdade humana. Aquele que vive, faz florescer o amor; fertiliza outras
formas amorosas, limitadas, para que cresçam, numa dança alegre ao som de uma
música que elas mesmas não possuem. Uma liberdade menor, sem outra liberdade
maior teria fronteiras bem restritas. Forma mais plena do bem não haveria se
essa que cria e recria, ao atravessar as barreiras do vazio silencioso da
morte, não fosse reconhecida e buscada. Sem o encontro com o Outro, interpelador,
provocador, a liberdade humana estaria presa em sua autossuficiência finita, ao
seguir suas próprias intuições. Estaria satisfeita com o findar existencial
imposto pelo frio de um túmulo. Todavia, não! A esperança, dom inquieto,
inaugura novas formas de viver porque tem raízes divinas.
De algum modo, não será estranho confessar que o além tem
vocação que inspira as buscas cotidianas. As críticas feitas à fé talvez não
sejam pela grandeza do que nela se encontra, entretanto pelas formas desordenadas
das várias crenças e de seus excessos. A fé em Cristo ressuscitado, por
exemplo, eleva a humanidade em dignidade, palavra tão almejada mesmo no senso
mais comum. Não aliena; liberta. Suavemente sugere caminho fraterno; exorcismo
da violência. Propõe a paz com aquilo que é mais fundamental na vida de todos:
a finitude, sem desastrosos desesperos. Elege Deus como instância única a ser
reverenciada, não por causa da insignificância da criatura, entretanto pela
grandeza que ela possui ao ser porta voz do criador. Do contrário, alguém,
algum grupo estaria sempre de prontidão para assumir lugares de mandos
absolutos, com as mais plausíveis justificativas. Ressurreição pode significar
uma longa estrada de paz, a defesa constante da sacralidade de tudo que existe,
desde que acolhido como graça benfazeja.
Pe. Vicente de Paula
Ferreira, C.Ss.R.
Amém!!!
ResponderExcluir"Deixemos o amor de Deus nos invadir!!!"
Feliz Páscoa a todos do "botefeamor"!!!