Vivo e ágil, ainda com fulgor nos olhos, caminhou para o estúdio de televisão improvisado no segundo andar da CASA DE SANT'ANNA, situada na rua "North Runswick, entre a Regina Coeli e a sua residência. Tirou o casaco, deixando a descoberto a blusa de azul pálido que usava por baixo, sentou-se sob as intensas luzes de quartzo e esperou pacientemente o pessoal de serviço da televisão verificasse o som e o "vídeo". Como concessão à debilidade do seu ouvido, aceitou, com relutância, um pequeno maço de fichas numeradas com as perguntas que lhe seriam dirigidas por AL NORREAL, durante a entrevista.
Ao longo de cinqüenta minutos, Frank Duff respondeu, por vezes, vincando as respostas com humor e risos. Quando tudo acabou, riu e entregou as fichas a Al Norrell, sem as ter usado uma só vez.
Esta entrevista é uma das oito com Frank Duff, fundador de Legião de Maria, realizadas em agosto de 1979, por um grupo de Legionários do Senatus da Filadélfia (Mon. Moss, Walt Brown, All Norrell, Bill Peffey e Beatrice Flanningan). Nesta entrevista, Frank Duff responde a perguntas sobre a sua família, e a sua formação pessoal e a organização por ele fundada, em 1921.
AL NORRELL - Tenho hoje, a grata incumbência de lhes apresentar o Sr. Frank Duf e de o entrevistar para o nosso programa. O Sr. Duff é um dos membros fundadores da Legião de Maria, organização de nível mundial, que soma atualmente, um milhão e meio de Membros Ativos e mais de dez milhões de Membros Auxiliares.
Sr. Duff, onde nasceu?
FRANK DUFF - Nasci nesta cidade, num lugar situado a um quilômetro e meio, ao norte.
A.N. - Sim, e em que ano?
F. DUFF - Em 1889 (Mil oitocentos e oitenta e nove).
A.N. - Portanto, está agora com noventa anos!
F. DUFF - é verdade, segundo as leis aritméticas. (Risos ...).
A.N. - E onde nasceram seu pai e sua mãe?
F. DUFF - Nasceram na vila de Trim, distrito de Meath, lugar muito conhecido na história da antiga Irlanda, a quarenta e quatro quilômetros daqui.
A.N. - E qual era o seu trabalho?
F. DUFF - Meu pai e minha mãe eram funcionários do Estado. Minha mãe distinguiu-se no exame de admissão do antigo funcionalismo britânico e irlandês, pela primeira vez franqueado e mulheres.
A.N. - Muito bem.
F. DUFF - Foi nomeada para servir em Londres, onde ficou alguns anos, regressando quando o sistema se estendeu à Irlanda. Era, pois, normal na família, ser-se funcionário público. Chegando o momento, também eu o fui.
A.N. - Bem. E quantos irmãos e irmãs teve?
F. DUFF - Ao todo, houve do casal sete filhos. Duas moças morreram jovens. Ficamos, então, cinco, três moças, meu irmão e eu.
A.N. - Vive ainda algum deles?
F. DUFF - Não, sou o único sobrevivente. É uma das angustias da minha vida. Quando quero voltar ao passado, que tanto desejaria conhecer, não sei a quem recorrer.
A.N. - Compreendo. Que me diz de sua formação intelectual? Onde estudou? Aqui na Irlanda?
F. DUFF - Depois de passar pelas escolas elementares "Dames Schools", estive dois anos no Colégio Belvedere, dirigido pelos Jesuítas. Como mudei de residência, fui para o colégio de Blackrock, onde completei os estudos.
Ao longo de cinqüenta minutos, Frank Duff respondeu, por vezes, vincando as respostas com humor e risos. Quando tudo acabou, riu e entregou as fichas a Al Norrell, sem as ter usado uma só vez.
Esta entrevista é uma das oito com Frank Duff, fundador de Legião de Maria, realizadas em agosto de 1979, por um grupo de Legionários do Senatus da Filadélfia (Mon. Moss, Walt Brown, All Norrell, Bill Peffey e Beatrice Flanningan). Nesta entrevista, Frank Duff responde a perguntas sobre a sua família, e a sua formação pessoal e a organização por ele fundada, em 1921.
AL NORRELL - Tenho hoje, a grata incumbência de lhes apresentar o Sr. Frank Duf e de o entrevistar para o nosso programa. O Sr. Duff é um dos membros fundadores da Legião de Maria, organização de nível mundial, que soma atualmente, um milhão e meio de Membros Ativos e mais de dez milhões de Membros Auxiliares.
Sr. Duff, onde nasceu?
FRANK DUFF - Nasci nesta cidade, num lugar situado a um quilômetro e meio, ao norte.
A.N. - Sim, e em que ano?
F. DUFF - Em 1889 (Mil oitocentos e oitenta e nove).
A.N. - Portanto, está agora com noventa anos!
F. DUFF - é verdade, segundo as leis aritméticas. (Risos ...).
A.N. - E onde nasceram seu pai e sua mãe?
F. DUFF - Nasceram na vila de Trim, distrito de Meath, lugar muito conhecido na história da antiga Irlanda, a quarenta e quatro quilômetros daqui.
A.N. - E qual era o seu trabalho?
F. DUFF - Meu pai e minha mãe eram funcionários do Estado. Minha mãe distinguiu-se no exame de admissão do antigo funcionalismo britânico e irlandês, pela primeira vez franqueado e mulheres.
A.N. - Muito bem.
F. DUFF - Foi nomeada para servir em Londres, onde ficou alguns anos, regressando quando o sistema se estendeu à Irlanda. Era, pois, normal na família, ser-se funcionário público. Chegando o momento, também eu o fui.
A.N. - Bem. E quantos irmãos e irmãs teve?
F. DUFF - Ao todo, houve do casal sete filhos. Duas moças morreram jovens. Ficamos, então, cinco, três moças, meu irmão e eu.
A.N. - Vive ainda algum deles?
F. DUFF - Não, sou o único sobrevivente. É uma das angustias da minha vida. Quando quero voltar ao passado, que tanto desejaria conhecer, não sei a quem recorrer.
A.N. - Compreendo. Que me diz de sua formação intelectual? Onde estudou? Aqui na Irlanda?
F. DUFF - Depois de passar pelas escolas elementares "Dames Schools", estive dois anos no Colégio Belvedere, dirigido pelos Jesuítas. Como mudei de residência, fui para o colégio de Blackrock, onde completei os estudos.
A.N. - E então, como disse, se tornou funcionário.
F. DUFF - Exatamente, tornei-me funcionário do Estado.
A.N. - Em 1921, foi fundada a LEGIÃO DE MARIA. Depois da fundação, até que ano continuou a ser funcionário do Estado?
F. DUFF - Até mil novecentes e trinta e três (1993). Deixei, então, o funcionalismo, pois há muito notara que as duas coisas eram incompatíveis.
Cheguei mesmo a pensar quea tensão ia me matando, aos poucos. Mas, tudo acabou, quando renunciei àquela função, coisa, aliás, de que não me arrependi. (Risos ...).
A.N. - E deste esse momento, o Sr. deu todo o seu tempo à Legião?
F. DUFF - De fato.
A.N. - Gostaria, agora, de lhe perguntar alguma coisa da organização de que todos somos membros. A Legião tem, presentemente, quase sessenta anos e está em todos os países do mundo.
F. DUFF - Exatamente, tornei-me funcionário do Estado.
A.N. - Em 1921, foi fundada a LEGIÃO DE MARIA. Depois da fundação, até que ano continuou a ser funcionário do Estado?
F. DUFF - Até mil novecentes e trinta e três (1993). Deixei, então, o funcionalismo, pois há muito notara que as duas coisas eram incompatíveis.
Cheguei mesmo a pensar quea tensão ia me matando, aos poucos. Mas, tudo acabou, quando renunciei àquela função, coisa, aliás, de que não me arrependi. (Risos ...).
A.N. - E deste esse momento, o Sr. deu todo o seu tempo à Legião?
F. DUFF - De fato.
A.N. - Gostaria, agora, de lhe perguntar alguma coisa da organização de que todos somos membros. A Legião tem, presentemente, quase sessenta anos e está em todos os países do mundo.
F. DUFF - Em quase todos...
A.N. - Em quase todos os países do mundo!
F. DUFF - Alguns dos países, chamados da "Cortina de Ferro", ainda não a têm. Esperamos que esta situação seja remediada, em breve.
A.N. - Bem. A Legião atual é a mesma que o senhor imaginou, no começo É ela aquilo que o senhor esperava?
F. DUFF - Bem, é uma pergunta difícil, pois supõe uma certa capacidade de previsão que eu não tenho. (Risos...). É como se perguntássemos a uma mãe, se seu filho, pequeno ainda, se tornaria um grande homem. É bem, verdade que, desde muito cedo, achei que lidávamos com algo fora do comum. Há dias, alguns dos senhores, falando comigo sobre o assunto, acharam que "isso" deve ter-se dado na segunda reunião da Legião! Ora, não é verdade. Mas ocorreu nos três primeiros meses de sua existência, quando lhes disse que estavam destinados a abarcar o mundo inteiro. Agora, o senhor me perguntará em que me fundamentava. Pois bem, eu me baseava no espírito extraordinariamente evidente do que estava em marcha. Eu estava acostumado a boas organizações. Estava mesmo inserido em coisas que me pareciam muito boas. E, no entanto, dizia comigo: "Isto é excepcional! Pessoas simples revelando um grau de coragem sem limite. Foi, baseado nessa idéia, que me aventurei a predizer-lhes que haveriam de abarcar o mundo inteiro. Acharam isto tão engraçado que passaram quase cinco minutos a rir ruidosamente. Tal foi o respeito com que acolheram a minha profecia. (Risos...).
A.N. - Não podiam compreender. Não podiam prever o que aconteceria...
F. DUFF - Aceitaram as coisas pois não tinham termo de comparação...
A.N. - Sim, claro.
F. DUFF - Veja. Para eles tratava-se de qualquer coisa normal, corrente...
A.N. - Bem. Talvez possamos falar da qualidade dos Membros de hoje. Nos começos, os Membros visitavam "Bentley Place", alguns com medo de perder a vida. Pensa que os Membros de hoje têm o mesmo calibre?
F. DUFF - Certamente. Não se discute! Sob esse aspecto, as exigências são mais elevadas. Os primeiros Membros aceitavam os trabalhos que lhes dávamos, como coisa natural e iriam, a "Bentley Place" ou a qualquer outro lugar difícil, como um dever. Hoje se dá o mesmo.
A.N. - Será?
F. DUFF - Sim. Verificamos, por exemplo, que em algumas "P.P.C", (Peregrinação Por Cristo), seguem para países que, à primeira vista, constituem perigosa aventura e, no entanto, fazem-no como se fosse coisa natural. Num pequeno grupo, como era o nosso, no começo, poderia significar muito pouco, mas torna-se impressionante, quando em larga escala, como presentemente.
A.N. - Então, o senhor está impressionado como a têmpera dos Membros de hoje!
F. DUFF - Oh" A têmpera dos Membros de hoje não tem limites. Explico-me. Há, com certeza, um limite artificial que lhes é imposto, mas que habitualmente vem de fora. Há membros que estão dispostos a fazer tudo o que lhes é proposto; mas, por razões diversas, nunca se lhes propõem, com freqüência, missões tão elevadas.
A.N. - Exatamente!
F.DUFF - Houve recentemente um caso bem típico. Um grupo de Membros quis lançar-se numa "Peregrinatio", especialmente difícil. Procuram-nos e propõem-nos o projeto. Ficamos espantados! Ora, o plano vinha de Membros comuns que sabiam muito bem em que se meteriam, pois conheciam todas as dificuldades e, no entanto, estavam dispostos a partir. Gostaria de relatar, aqui, com mais promenores, esse episódio, não notável é; mas acho preferível não lhe dar publicidade. Direi apenas que se tratava de coisas tão extraordinária que os levaria à morte.
A.N. - Em quase todos os países do mundo!
F. DUFF - Alguns dos países, chamados da "Cortina de Ferro", ainda não a têm. Esperamos que esta situação seja remediada, em breve.
A.N. - Bem. A Legião atual é a mesma que o senhor imaginou, no começo É ela aquilo que o senhor esperava?
F. DUFF - Bem, é uma pergunta difícil, pois supõe uma certa capacidade de previsão que eu não tenho. (Risos...). É como se perguntássemos a uma mãe, se seu filho, pequeno ainda, se tornaria um grande homem. É bem, verdade que, desde muito cedo, achei que lidávamos com algo fora do comum. Há dias, alguns dos senhores, falando comigo sobre o assunto, acharam que "isso" deve ter-se dado na segunda reunião da Legião! Ora, não é verdade. Mas ocorreu nos três primeiros meses de sua existência, quando lhes disse que estavam destinados a abarcar o mundo inteiro. Agora, o senhor me perguntará em que me fundamentava. Pois bem, eu me baseava no espírito extraordinariamente evidente do que estava em marcha. Eu estava acostumado a boas organizações. Estava mesmo inserido em coisas que me pareciam muito boas. E, no entanto, dizia comigo: "Isto é excepcional! Pessoas simples revelando um grau de coragem sem limite. Foi, baseado nessa idéia, que me aventurei a predizer-lhes que haveriam de abarcar o mundo inteiro. Acharam isto tão engraçado que passaram quase cinco minutos a rir ruidosamente. Tal foi o respeito com que acolheram a minha profecia. (Risos...).
A.N. - Não podiam compreender. Não podiam prever o que aconteceria...
F. DUFF - Aceitaram as coisas pois não tinham termo de comparação...
A.N. - Sim, claro.
F. DUFF - Veja. Para eles tratava-se de qualquer coisa normal, corrente...
A.N. - Bem. Talvez possamos falar da qualidade dos Membros de hoje. Nos começos, os Membros visitavam "Bentley Place", alguns com medo de perder a vida. Pensa que os Membros de hoje têm o mesmo calibre?
F. DUFF - Certamente. Não se discute! Sob esse aspecto, as exigências são mais elevadas. Os primeiros Membros aceitavam os trabalhos que lhes dávamos, como coisa natural e iriam, a "Bentley Place" ou a qualquer outro lugar difícil, como um dever. Hoje se dá o mesmo.
A.N. - Será?
F. DUFF - Sim. Verificamos, por exemplo, que em algumas "P.P.C", (Peregrinação Por Cristo), seguem para países que, à primeira vista, constituem perigosa aventura e, no entanto, fazem-no como se fosse coisa natural. Num pequeno grupo, como era o nosso, no começo, poderia significar muito pouco, mas torna-se impressionante, quando em larga escala, como presentemente.
A.N. - Então, o senhor está impressionado como a têmpera dos Membros de hoje!
F. DUFF - Oh" A têmpera dos Membros de hoje não tem limites. Explico-me. Há, com certeza, um limite artificial que lhes é imposto, mas que habitualmente vem de fora. Há membros que estão dispostos a fazer tudo o que lhes é proposto; mas, por razões diversas, nunca se lhes propõem, com freqüência, missões tão elevadas.
A.N. - Exatamente!
F.DUFF - Houve recentemente um caso bem típico. Um grupo de Membros quis lançar-se numa "Peregrinatio", especialmente difícil. Procuram-nos e propõem-nos o projeto. Ficamos espantados! Ora, o plano vinha de Membros comuns que sabiam muito bem em que se meteriam, pois conheciam todas as dificuldades e, no entanto, estavam dispostos a partir. Gostaria de relatar, aqui, com mais promenores, esse episódio, não notável é; mas acho preferível não lhe dar publicidade. Direi apenas que se tratava de coisas tão extraordinária que os levaria à morte.
A.N. - Hein?
F. DUFF - Sim, muito provavelmente. E foi de nós que partiu a oposição. Não os deixamos seguir.
A.N. - Compreendo. Os senhores impediram-nos. O Senhor sabe que ouvimos muitas coisas de "verdadeiros Legionários". Gostaria de que nos desse a definição de verdadeiro Legionário.
F. DUFF - Verdadeiro Legionário é aquele que compreende os regulamentos e lhes obedece. (Risos...).
A.N. - Mas é uma definição muito simples. (Risos...).
F. DUFF - Concorda?
A.N. - Concordo, vindo do senhor. Mas não poderia dizer-nos algo mais?
F. DUFF - Talvez possa acrescenter uma nova exigência. Temos que nos certificar de que essa pessoa persevera na Legião. Por isso, temos que acrescentar a condição de que tal pessoa tenha sido um bom Legionário e que tenha aguentado a corrida.
A.N. - Muito bem! Vamos fazer-lhe um pergunta um pouco difícil. A Legião o desiludiu, alguma vez?
F. DUFF - O Senhor considera isso um pergunta difícil, daquelas que os Americanos costumam dizer que vale 64 dólares. (Risos...). Com a inflação dos tempos que correm tem que valer mais!
Se quer saber se estive, sempre, de acordo com a Legião, em todos os momentos, terei que dizer que não! Houve numerosos acontecimentos e sempre os haverá, que me aterraram; em que foi tomada uma decisão que julguei errada. Mas, o tempo seguiu seu curso e, cheguei à conclusão de que talvez, a Legião tivesse razão. É assim que devemos deixar ficarem as coisas. (Risos...).
A.N. - Muito bem! O Senhor está, agora, com noveta anos! Vivemos num tempo em que os bispos se aposentam aos setenta e cinco e se fala muito em renovação e de coisas semelhantes. Como o senhor justifica a sua participação continuada e ativa, na Legião?
F. DUFF - Não entendo bem a pergunta. Será que devo sair da Legião? (Risos...). A que devo eu renunciar? Ao dever que a Igreja solenemente me impôs? Devo pôr, de lado, um Cristianismo ativo? Que forma de aposentadoria deve ser a minha? Será que me devo retirar completamente, deixar de ser Membro da Legião? Evidentemente, não é isso o que quer dizer.
A.N. - Não, absolutamente.
F. DUFF O que quer dizer, suponho eu, é que, aos setenta e cinco anos, se julga uma pessoa já perdeu um pouco de sua lucidez de espírito e capacidade de agir.
A.N. - Bem, isso no seu caso, não é verdade.
F. DUFF - Bem, mas poderia ser! O senhor vê que estou supondo que é melhor entregar as responsabilidades a gente mais jovem. Mas que responsabilidades devo entregar? Não sou o Presidente da Legião. Se não tenho nenhum alto cargo, o que devo renunciar? (Risos...).
A.N. - Considerando que os bispos se retiram aos setenta e cinco, queríamos mostrar que o senhor já passou dessa idade. Mas, dada a sabedoria e a força que comunica à Organização, não deve pensar em retirar-se?
F. DUFF - Bem. Se tenho alguma sabedoria ou alguma força, elas estão ao dispor da Legião. Não tenho a autoridade suprema da Legião. Aliás, a Legião sempre encarou, desde o começo, esta situação aos setenta e cinco anos. Porque, ao contrário, da associação que, em certa medida, lhe serviu de modelo, a Legião impôs restrições à duração dos cargos dos dirigentes, inclusive do Presidente do Concilium. Tem que receber a renovação do mandato, a cada três anos e, após um segundo triênio, ou seja, seis anos ao todo, tem de deixar o cargo: não necessariamente para sempre, pois ao fim de outros três anos, pode ser reeleito para o mesmo cargo. E a nova eleição pressupõe que ele mantenha as suas faculdades.
F. DUFF - Sim, muito provavelmente. E foi de nós que partiu a oposição. Não os deixamos seguir.
A.N. - Compreendo. Os senhores impediram-nos. O Senhor sabe que ouvimos muitas coisas de "verdadeiros Legionários". Gostaria de que nos desse a definição de verdadeiro Legionário.
F. DUFF - Verdadeiro Legionário é aquele que compreende os regulamentos e lhes obedece. (Risos...).
A.N. - Mas é uma definição muito simples. (Risos...).
F. DUFF - Concorda?
A.N. - Concordo, vindo do senhor. Mas não poderia dizer-nos algo mais?
F. DUFF - Talvez possa acrescenter uma nova exigência. Temos que nos certificar de que essa pessoa persevera na Legião. Por isso, temos que acrescentar a condição de que tal pessoa tenha sido um bom Legionário e que tenha aguentado a corrida.
A.N. - Muito bem! Vamos fazer-lhe um pergunta um pouco difícil. A Legião o desiludiu, alguma vez?
F. DUFF - O Senhor considera isso um pergunta difícil, daquelas que os Americanos costumam dizer que vale 64 dólares. (Risos...). Com a inflação dos tempos que correm tem que valer mais!
Se quer saber se estive, sempre, de acordo com a Legião, em todos os momentos, terei que dizer que não! Houve numerosos acontecimentos e sempre os haverá, que me aterraram; em que foi tomada uma decisão que julguei errada. Mas, o tempo seguiu seu curso e, cheguei à conclusão de que talvez, a Legião tivesse razão. É assim que devemos deixar ficarem as coisas. (Risos...).
A.N. - Muito bem! O Senhor está, agora, com noveta anos! Vivemos num tempo em que os bispos se aposentam aos setenta e cinco e se fala muito em renovação e de coisas semelhantes. Como o senhor justifica a sua participação continuada e ativa, na Legião?
F. DUFF - Não entendo bem a pergunta. Será que devo sair da Legião? (Risos...). A que devo eu renunciar? Ao dever que a Igreja solenemente me impôs? Devo pôr, de lado, um Cristianismo ativo? Que forma de aposentadoria deve ser a minha? Será que me devo retirar completamente, deixar de ser Membro da Legião? Evidentemente, não é isso o que quer dizer.
A.N. - Não, absolutamente.
F. DUFF O que quer dizer, suponho eu, é que, aos setenta e cinco anos, se julga uma pessoa já perdeu um pouco de sua lucidez de espírito e capacidade de agir.
A.N. - Bem, isso no seu caso, não é verdade.
F. DUFF - Bem, mas poderia ser! O senhor vê que estou supondo que é melhor entregar as responsabilidades a gente mais jovem. Mas que responsabilidades devo entregar? Não sou o Presidente da Legião. Se não tenho nenhum alto cargo, o que devo renunciar? (Risos...).
A.N. - Considerando que os bispos se retiram aos setenta e cinco, queríamos mostrar que o senhor já passou dessa idade. Mas, dada a sabedoria e a força que comunica à Organização, não deve pensar em retirar-se?
F. DUFF - Bem. Se tenho alguma sabedoria ou alguma força, elas estão ao dispor da Legião. Não tenho a autoridade suprema da Legião. Aliás, a Legião sempre encarou, desde o começo, esta situação aos setenta e cinco anos. Porque, ao contrário, da associação que, em certa medida, lhe serviu de modelo, a Legião impôs restrições à duração dos cargos dos dirigentes, inclusive do Presidente do Concilium. Tem que receber a renovação do mandato, a cada três anos e, após um segundo triênio, ou seja, seis anos ao todo, tem de deixar o cargo: não necessariamente para sempre, pois ao fim de outros três anos, pode ser reeleito para o mesmo cargo. E a nova eleição pressupõe que ele mantenha as suas faculdades.
A.N. - Entendo. Agora, o senhor é ...
F. DUFF - Deixei a presidência, há um bom número de anos. Vi ..., aproveitei a primeira oportunidade que me foi oferecida para deixar ..., para recusar a renovação do mandato do meu cargo e passar a nível menos exigente.
A.N. - O senhor, agora, é Conselheiro. Pode dizer-nos qual é a função de Conselheiro e como a exerce?
F. DUFF - Bem, é ... para deixar campo aberto à nova geração, em nossas fileiras. Criamos a categoria de Conselheiro, para todos aqueles que hajam sido excelentes dirigentes e tenham desempenhado ora um, ora outro cargo. Seria retirá-los de tudo, colocando-os na categoria de aposentadoria, (risos ...), ficando os cargos para os talentos que vão despontando.
A.N. - Entendido.
F. DUFF - Como o senhor vê, este é um problema real, em toda a parte. Se deixamos as pessoas voltarem a ocupar indefinidamente os altos cargos, depois de um período fora dos mesmos, acabamos por manter as mesmas pessoas, nos mesmos cargos, demasiado tempo. E se apresentará a situação dos setenta e cinco. O cargo de Conselheiro evita tal coisa. Quando uma pessoa se mantém nos cargos bastante tempo, entendemos que é tempo de resolver esta situação, sem a colocar de lado, visto que a categoria do Conselheiro preserve a sua experiência, embora deixando o cargo que ocupava, o cargo de maior responsabilidade aberto a outra pessoa. E, na Legião, há sempre alguém capaz de ocupar tais lugares. Este problema pode surgir a qualquer momento.
A.N. - Então, os Conselheiros estão aí, para nos ajudar, com sua experiência.
F. DUFF - Na Legião, há sempre alguém capaz de ocupar-nos os lugares, aproveitamos-lhe a experiência e damos oportunidade a outros. Na Áustria, elegeu-se um jovem de 21 anos, para Presidente do Senatus. Logo que nos escreveu, disse: "Penso que sou mais jovem de todos os Presidentes de Senatus". E era.
A.N. - Vinte e um anos! É maravilhoso! Ao considerar a nossa organização, perguntamos: que medidas o Sr. tomou, para proteger seus ideiais, quando tiver partido? Pensa que a Legião continuará a ser o que é, depois de nos deixar?
F. DUFF - Bem, é uma situação peculiar. Mas, para responder à sua pergunta, teremos que subir aos domínios da fé e da devoção. "A Legião, desde o primeiro momento, esteve nas mãos da Santíssima Virgem. Meu afastamento de cena não vai arrancá-la de Suas mãos". Temos que ter fé, para admitir que a Sua proteção continuará, talvez maior ainda, considerando que a Legião se torna, cada vez mais um elemento vital para a Igreja.
Bem, há sessenta anos, eu não previa nada do que aconteceu à Legião. Eu sabia, apenas, que, pela ação, se tornaria o braço direito da Igreja Católica. E isso é essencial! E reconhecido, sem reservas. Em nossa recente visita a ROMA, tivemos prova absoluta. Todos as pessoas, com os quais tratamos, a mais elevada à frente, estavam certas do que disse e procuravam demonstrá-lo, aconlhendo-nos de forma excepcional.
E, apesar disso, é triste verificar-se quantas pessoas importantes no mundo, ainda não se interessaram pela Legião. Agem contra o verdadeiro bem da Igreja Católica. A meu ver, a Legião só agora chegou à maioridade. Até então, pode-se dizer, esteve no berço. Presentemente, é soldado crescido e armado, pronto para a tremenda luta em que nos envolveremos, no século que vem.
A.N. - É assim que a vê, prosseguindo em sua marcha para grandes coisas?
F. DUFF - Bem, é assim que eu penso. Outros poderão discordar. Dizem que, no Concílio, muitos Bispos quiseram mencionar, em um dos seus decretos, a Legião de Maria. O fato foi examinado e posto de parte. Houve razões válidas; primeiro, porque provocaria certo ciúme contra a Legião, o que não a beneficiaria. Segundo, acreditando nos desígnos da Providência, a Legião desapareceria dentro de dez anos e, a mesma Providência suscitaria uma organização melhor. Dessa maneira, constaria uma organização desaparecida. O bom senso presidiu a tudo.
A.N. - Acerca dos trabalhos da Legião de Maria: hoje, avaliam-se as organizações laicais pelo trabalho que oferecem à Igreja. No Manual, vemos que o trabalho é secundário. Pode justificar isso? O trabalho é de importância secundária?
F. DUFF - Sim. Essa é a mais importante verdade da Legião, porque é algo que está muito acima da natureza do trabalho, o seu espírito, a fé da Legião. Por que nos aplicamos a trabalhos de envergadura, se não temos elementos para tal? Esta, a grande falha do mundo de hoje.
Quando analisamos certos programas extraordinários, não encontramos nada. Enchem-se folhas e folhas de projetos ambiciosos e não se avança uma polegada, na sua realização. Planos no papel. Todos fazem planos, no papel. Para execução desses planos, seria preciso um exército. Mas não têm esse exército... É fantástico! Que desperdício de papel!
Quando se prepara uma obra, por mais simples que seja, temos que ver, primeiro, se dispomos de material humano com capacidade para tal empreendimento, e se vai perservar.
A.N. - Bem, eu sempre pensei, ao falar do trabalho com secundário, que o desenvolvimento espiritual do indivíduo ocupava o primeiro lugar. É esse o seu pensamento?
F. DUFF - Sim. A primeira coisa é a criação do instrumento. Se queremos serrar madeira, temos que ter uma serra e esta deve ter determinadas qualidades. Está aí a simplicidade de nosso sistema. Quando falo do espírito da Legião, da sua fé, tenho que lhe perguntar: "Que entende o Sr. por espírito? E por fé? Uma fé simples, pouco desenvolvida, que crê que Deus é poderoso e está talvez do nosso lado... e nada mais?" Claro que não.
Temos que inserir, no assunto, o que poderíamos chamar de consideração teológicas. A fé tem que ser completa. tem que ser uma fé católica. Tem que crer nas doutrinas da Igreja Católica. Tem que crer em algo que anda muito descurado, ou seja, na Santíssima Virgem! Se alguém quisesse... se alguém nos disesse: "Vamos pô-los em todas as paróquias do mundo. Dar-lher-emos todas as oportunidades para execução de grandes trabalhos. Imporemos, apenas, uma condição: ponham de lado todos esses disparates sobre a Santíssima Virgem e tenham uma posição mais sensata. Por outras palavras, ponham-Na de lado." Pois bem, nossa resposta seria um não!
A.N. - Como vê a Legião no futuro? Acredita que continuará com sua vitalidade atual no século XXI?
F. DUFF - Essa é mais uma pergunta de "64 dólares"; falar do futuro é tarefa do alcance duvidoso, pois podem ser, apenas, conjecturas. Eu diria que, se deixarem a Legião como está, atualmente, ele conserverá sua vitalidade e seu nível de êxito, melhorando-os ainda sensivelmente. Entretanto, temos que considerar a História, que conheço um pouco. Ora, a História ensina que não se está seguro de nada, por mais sólido que pareça. Se olharmos para trás, vemos surgir grandes movimentos, coisas extraordinárias! Ao fim de algum tempo, tudo desapareceu de cena. O falecido Dr. Downey, Arcebispo de Liverpool, depois de uma reflexão dizia: "Toda a organização laical deve ser suprimida no qüinquagésimo aniversário. pois, como os homens, envelheceu". Nem sequer deixava que atingisse 75 anos. (Risos...). Dir-se-ia que o Senhor concede a uma instituição extraordinários resultados e, a seguir, a apaga do mapa, por melhor que tenha sido. Tennyson diz que Deus se renova a Si mesmo, de muitas maneiras, com receio de que um bom costume perverta o mundo. Ele cria e, talvez, muito do que cria, exista para sempre, pela radiação do Seu espírito, isto é, enquanto existiu, modelou os espíritos, tornando-se, desta forma, uma realidade permanente na Igreja. Como entidade visível, porém deixou de existir.
Quando lançamos um olhar sobre o mundo, vemos situações muito preocupantes. Pessoas há que desejam, apaixonadamente, apoderar-se da Legião, para modificá-la, de acordo com suas idéias. Se, uma tal mentalidade viesse a prevalecer e a Legião fosse alterada, posso dizer-lhes, seria a morte da Legião de Maria! É doloroso e aterrador pensar nisso. Seria preciso, então, dizer: "Bem, Deus está no Céu. Ele permitiu que tal acontecesse. Portanto. Ele vai providenciar".
Vejamos a Revolução Francesa. A reforma protestante varreu metade do mundo católico de então e, como disse Lord MacCauley, nada dela regressou jamais. Desde então, grandes comunidades deixaram a Igreja e regressaram a ela, mas ninguém, nenhuma comunidade deixaram a Igreja e regressaram a ela, mas ninguém, nenhuma comunidade que a abandonou, no tempo da reforma, regressou. São coisas que nos levam a refletir seriamente. Há, por aí, nações inteiras que vivem uma forma truncada de fé e não somos capazes de as fazer regressar. Morrem e desaparecem.
Como vê, temos que ser cautelosos, quando procuramos perscrutar o futuro. A Legião também poderá ser destruída. Bastará que se perverta a forma particular como encara. Nossa Senhora. É como se um proverbial parafuso soltasse fora do lugar e toda a máquina gigante fosse paralisada.
A.N. - Bem. Talvez eu tenha insistido demasiadamente na previsão do futuro... Seria melhor que, após sessenta anos de Legião, nos contasse coisas que aconteceram. As realizações da Legião, nesse período.
F. DUFF - São tão numerosas que me é impossível enumerá-las. Sou levado a pensar que o maior acontecimento se passou nas Filipinas, país que todos pensavam se afastara tanto da Igreja, que seria impossível uma recuperação. O célebre D. E. J. McCarthy, enviado pelos Revmo. Pes. Columbanos, informou seus superiores de que era necessário recomeçar a evangelização ali, pois as ilhas tinham ido longe demais, para se conseguir uma recuperação rápida. Era uma inteligência e nem se atreveu a fundar a Legião, embora lhe aconselhássemos a tarefa.
Na Universidade de S. Tomás, onde era Assistente Eclesiástico, não havia, a seu ver, um único candidato idôneo, para a Legião. Foi, então, que entrou em cena o Revmo. Pe. Garcia, um Vicentino espanhol. Em quinze dias, fundou dois Praesidia. Ao final de um ano, havia catorze. Durante a ocupação japonesa que se lhe seguiu, o número atingiu a cem. Atualmente, há, aproximadamente, uns dez mil Praesidia e as Filipinas são, de novo, um país católico.
Ali não havia sacerdotes, mas logo pôde abrir um Seminário, para formar Missionários destinados ao estrangeiro. As vocações entre os homens e as mulheres são numerosíssimas. Estão preparando, agora, um exército pacífico de apóstolos para penetrar em toda a Ásia. Tudo isto me leva a crer que é a maior realização alcançada. Mas, devo dizer-lhe que, em outros lugares, se passa o mesmo.
Na Islândia, aconteceu algo maravilhoso, quase "impossível": Quinze pessoas estão a ser religiosamente instruídas. Toda a atmosfera da ilha está impregnada de catolicismo. O que se conseguiu, na China, foi verdadeiramente prodigio.
Provavelmente, o Sr. entrevistará o Revmo. Pe. MacGrath. A Legião foi ali fundada, pouco tempo antes da vitória dos comunistas. Seu poder de irradiação foi tal parecia um alude. Essa figura extraordinária, S. Exa. Revma. o Sr. Arcebispo Riberi informou o Papa de que a situação, na China, era de intenso otimismo, pois estávamos perto de uma conversão em massa. O grande problema era o da instrução religiosa. Não faltavam convertidos. O difícil era a catequese. Como disse esse homem extraordinário: "A nota dominante deve ser o otimismo".
Sobrevejo, então, um desses invulgares reveses que Deus permite; e tudo desaparece. A Legião é perseguida até a morte e extermínio e todas aquelas brilhantes perspectivas são aniquiladas. O Sr. não pode compreender, mas há coisas importantes, atividades da Legião que afetam países inteiros. Em nossas modalidades de ação, há novos trabalhos introduzidos pela Legião.
Ele mostrou que qualquer leigo, mesmo o mais simples, é capaz de ser apóstolo. Antes, ninguém sonhara com isto. Eu diria até que o Vaticano II representa um ato de fé na Legião. Ali se legislou sobre mobilização do Povo de Deus. Pois bem, sem a Legião, é um projeto inútil. Não se mobiliza o Povo de Deus para o apostolado, levando um grupo de pessoas tratados sobre qualquer coisa. Isso não é mobilização do Povo de Deus!
Temos que captar todas as pessoas até as mais simples e incultas. Aí está o grande êxito da Legião de Maria: a mobilização daquelas pessoas que o mundo considera incapazes para o apostolado. Elas aí estão, em nossas fileiras. E, nós não nos gloriamos das princesas e de outras pessoas notáveis que também são das grande fileiras, mas dessas pessoas humildes do mundo. Elas são a nosa principal riqueza. O Papa Paulo VI disse: "Aquilo de que gosto mais, na Legião de maria, é que ele sabe utilizar as pessoas de humilde condição social".
A.N. - Muito bem! Gostaria, entretanto, de lhe fazer, por hoje, uma última pergunta. Que me diz da Legião, como fazedora de Santos?
F. DUFF - Como quê ... ? Como forja de Santos? Uma pergunta que se justifica. A Legião ensina a Legionários e dá-lhes capacidade de compreenderem as grandes verdades de fé católica, tais como a doutrina do Corpo Místico que, segundo S. Tomás de Aquino, é a doutrina central da Igreja; a maternidade de Maria e o extraordinário ascendente de Nossa Senhora sobre o Espírito Santo.
Temos de lançar mão de uma expressão tão extraordinária, como esta, para denotar a verdade. A Legião ensina estas coisas, santas e santificantes, a todos os seus Membros. Estas coisas fazem santos e granel. E fazem-nos, hoje mesmo; esta é a verdade. Por si mesma, a Legião poderá resolver o problema das vocações para a Igreja.
A.N. - Obrigado, Senhor Duff, por estar conosco e por nos dar tão bela entrevista. E também pelas informações proveitosas para os Legionários do mundo inteiro. Obrigado.
F. DUFF - Obrigado, também, Al Norrel, pela habilidade com que dirigiu as perguntas e pela paciência que teve para com as minhas respostas. (Risos ...).
Tradução de "Maria Legionis"
por Yolanda Vieira Ribeiro (Presidente do Senatus Rio de janeiro)
F. DUFF - Deixei a presidência, há um bom número de anos. Vi ..., aproveitei a primeira oportunidade que me foi oferecida para deixar ..., para recusar a renovação do mandato do meu cargo e passar a nível menos exigente.
A.N. - O senhor, agora, é Conselheiro. Pode dizer-nos qual é a função de Conselheiro e como a exerce?
F. DUFF - Bem, é ... para deixar campo aberto à nova geração, em nossas fileiras. Criamos a categoria de Conselheiro, para todos aqueles que hajam sido excelentes dirigentes e tenham desempenhado ora um, ora outro cargo. Seria retirá-los de tudo, colocando-os na categoria de aposentadoria, (risos ...), ficando os cargos para os talentos que vão despontando.
A.N. - Entendido.
F. DUFF - Como o senhor vê, este é um problema real, em toda a parte. Se deixamos as pessoas voltarem a ocupar indefinidamente os altos cargos, depois de um período fora dos mesmos, acabamos por manter as mesmas pessoas, nos mesmos cargos, demasiado tempo. E se apresentará a situação dos setenta e cinco. O cargo de Conselheiro evita tal coisa. Quando uma pessoa se mantém nos cargos bastante tempo, entendemos que é tempo de resolver esta situação, sem a colocar de lado, visto que a categoria do Conselheiro preserve a sua experiência, embora deixando o cargo que ocupava, o cargo de maior responsabilidade aberto a outra pessoa. E, na Legião, há sempre alguém capaz de ocupar tais lugares. Este problema pode surgir a qualquer momento.
A.N. - Então, os Conselheiros estão aí, para nos ajudar, com sua experiência.
F. DUFF - Na Legião, há sempre alguém capaz de ocupar-nos os lugares, aproveitamos-lhe a experiência e damos oportunidade a outros. Na Áustria, elegeu-se um jovem de 21 anos, para Presidente do Senatus. Logo que nos escreveu, disse: "Penso que sou mais jovem de todos os Presidentes de Senatus". E era.
A.N. - Vinte e um anos! É maravilhoso! Ao considerar a nossa organização, perguntamos: que medidas o Sr. tomou, para proteger seus ideiais, quando tiver partido? Pensa que a Legião continuará a ser o que é, depois de nos deixar?
F. DUFF - Bem, é uma situação peculiar. Mas, para responder à sua pergunta, teremos que subir aos domínios da fé e da devoção. "A Legião, desde o primeiro momento, esteve nas mãos da Santíssima Virgem. Meu afastamento de cena não vai arrancá-la de Suas mãos". Temos que ter fé, para admitir que a Sua proteção continuará, talvez maior ainda, considerando que a Legião se torna, cada vez mais um elemento vital para a Igreja.
Bem, há sessenta anos, eu não previa nada do que aconteceu à Legião. Eu sabia, apenas, que, pela ação, se tornaria o braço direito da Igreja Católica. E isso é essencial! E reconhecido, sem reservas. Em nossa recente visita a ROMA, tivemos prova absoluta. Todos as pessoas, com os quais tratamos, a mais elevada à frente, estavam certas do que disse e procuravam demonstrá-lo, aconlhendo-nos de forma excepcional.
E, apesar disso, é triste verificar-se quantas pessoas importantes no mundo, ainda não se interessaram pela Legião. Agem contra o verdadeiro bem da Igreja Católica. A meu ver, a Legião só agora chegou à maioridade. Até então, pode-se dizer, esteve no berço. Presentemente, é soldado crescido e armado, pronto para a tremenda luta em que nos envolveremos, no século que vem.
A.N. - É assim que a vê, prosseguindo em sua marcha para grandes coisas?
F. DUFF - Bem, é assim que eu penso. Outros poderão discordar. Dizem que, no Concílio, muitos Bispos quiseram mencionar, em um dos seus decretos, a Legião de Maria. O fato foi examinado e posto de parte. Houve razões válidas; primeiro, porque provocaria certo ciúme contra a Legião, o que não a beneficiaria. Segundo, acreditando nos desígnos da Providência, a Legião desapareceria dentro de dez anos e, a mesma Providência suscitaria uma organização melhor. Dessa maneira, constaria uma organização desaparecida. O bom senso presidiu a tudo.
A.N. - Acerca dos trabalhos da Legião de Maria: hoje, avaliam-se as organizações laicais pelo trabalho que oferecem à Igreja. No Manual, vemos que o trabalho é secundário. Pode justificar isso? O trabalho é de importância secundária?
F. DUFF - Sim. Essa é a mais importante verdade da Legião, porque é algo que está muito acima da natureza do trabalho, o seu espírito, a fé da Legião. Por que nos aplicamos a trabalhos de envergadura, se não temos elementos para tal? Esta, a grande falha do mundo de hoje.
Quando analisamos certos programas extraordinários, não encontramos nada. Enchem-se folhas e folhas de projetos ambiciosos e não se avança uma polegada, na sua realização. Planos no papel. Todos fazem planos, no papel. Para execução desses planos, seria preciso um exército. Mas não têm esse exército... É fantástico! Que desperdício de papel!
Quando se prepara uma obra, por mais simples que seja, temos que ver, primeiro, se dispomos de material humano com capacidade para tal empreendimento, e se vai perservar.
A.N. - Bem, eu sempre pensei, ao falar do trabalho com secundário, que o desenvolvimento espiritual do indivíduo ocupava o primeiro lugar. É esse o seu pensamento?
F. DUFF - Sim. A primeira coisa é a criação do instrumento. Se queremos serrar madeira, temos que ter uma serra e esta deve ter determinadas qualidades. Está aí a simplicidade de nosso sistema. Quando falo do espírito da Legião, da sua fé, tenho que lhe perguntar: "Que entende o Sr. por espírito? E por fé? Uma fé simples, pouco desenvolvida, que crê que Deus é poderoso e está talvez do nosso lado... e nada mais?" Claro que não.
Temos que inserir, no assunto, o que poderíamos chamar de consideração teológicas. A fé tem que ser completa. tem que ser uma fé católica. Tem que crer nas doutrinas da Igreja Católica. Tem que crer em algo que anda muito descurado, ou seja, na Santíssima Virgem! Se alguém quisesse... se alguém nos disesse: "Vamos pô-los em todas as paróquias do mundo. Dar-lher-emos todas as oportunidades para execução de grandes trabalhos. Imporemos, apenas, uma condição: ponham de lado todos esses disparates sobre a Santíssima Virgem e tenham uma posição mais sensata. Por outras palavras, ponham-Na de lado." Pois bem, nossa resposta seria um não!
A.N. - Como vê a Legião no futuro? Acredita que continuará com sua vitalidade atual no século XXI?
F. DUFF - Essa é mais uma pergunta de "64 dólares"; falar do futuro é tarefa do alcance duvidoso, pois podem ser, apenas, conjecturas. Eu diria que, se deixarem a Legião como está, atualmente, ele conserverá sua vitalidade e seu nível de êxito, melhorando-os ainda sensivelmente. Entretanto, temos que considerar a História, que conheço um pouco. Ora, a História ensina que não se está seguro de nada, por mais sólido que pareça. Se olharmos para trás, vemos surgir grandes movimentos, coisas extraordinárias! Ao fim de algum tempo, tudo desapareceu de cena. O falecido Dr. Downey, Arcebispo de Liverpool, depois de uma reflexão dizia: "Toda a organização laical deve ser suprimida no qüinquagésimo aniversário. pois, como os homens, envelheceu". Nem sequer deixava que atingisse 75 anos. (Risos...). Dir-se-ia que o Senhor concede a uma instituição extraordinários resultados e, a seguir, a apaga do mapa, por melhor que tenha sido. Tennyson diz que Deus se renova a Si mesmo, de muitas maneiras, com receio de que um bom costume perverta o mundo. Ele cria e, talvez, muito do que cria, exista para sempre, pela radiação do Seu espírito, isto é, enquanto existiu, modelou os espíritos, tornando-se, desta forma, uma realidade permanente na Igreja. Como entidade visível, porém deixou de existir.
Quando lançamos um olhar sobre o mundo, vemos situações muito preocupantes. Pessoas há que desejam, apaixonadamente, apoderar-se da Legião, para modificá-la, de acordo com suas idéias. Se, uma tal mentalidade viesse a prevalecer e a Legião fosse alterada, posso dizer-lhes, seria a morte da Legião de Maria! É doloroso e aterrador pensar nisso. Seria preciso, então, dizer: "Bem, Deus está no Céu. Ele permitiu que tal acontecesse. Portanto. Ele vai providenciar".
Vejamos a Revolução Francesa. A reforma protestante varreu metade do mundo católico de então e, como disse Lord MacCauley, nada dela regressou jamais. Desde então, grandes comunidades deixaram a Igreja e regressaram a ela, mas ninguém, nenhuma comunidade deixaram a Igreja e regressaram a ela, mas ninguém, nenhuma comunidade que a abandonou, no tempo da reforma, regressou. São coisas que nos levam a refletir seriamente. Há, por aí, nações inteiras que vivem uma forma truncada de fé e não somos capazes de as fazer regressar. Morrem e desaparecem.
Como vê, temos que ser cautelosos, quando procuramos perscrutar o futuro. A Legião também poderá ser destruída. Bastará que se perverta a forma particular como encara. Nossa Senhora. É como se um proverbial parafuso soltasse fora do lugar e toda a máquina gigante fosse paralisada.
A.N. - Bem. Talvez eu tenha insistido demasiadamente na previsão do futuro... Seria melhor que, após sessenta anos de Legião, nos contasse coisas que aconteceram. As realizações da Legião, nesse período.
F. DUFF - São tão numerosas que me é impossível enumerá-las. Sou levado a pensar que o maior acontecimento se passou nas Filipinas, país que todos pensavam se afastara tanto da Igreja, que seria impossível uma recuperação. O célebre D. E. J. McCarthy, enviado pelos Revmo. Pes. Columbanos, informou seus superiores de que era necessário recomeçar a evangelização ali, pois as ilhas tinham ido longe demais, para se conseguir uma recuperação rápida. Era uma inteligência e nem se atreveu a fundar a Legião, embora lhe aconselhássemos a tarefa.
Na Universidade de S. Tomás, onde era Assistente Eclesiástico, não havia, a seu ver, um único candidato idôneo, para a Legião. Foi, então, que entrou em cena o Revmo. Pe. Garcia, um Vicentino espanhol. Em quinze dias, fundou dois Praesidia. Ao final de um ano, havia catorze. Durante a ocupação japonesa que se lhe seguiu, o número atingiu a cem. Atualmente, há, aproximadamente, uns dez mil Praesidia e as Filipinas são, de novo, um país católico.
Ali não havia sacerdotes, mas logo pôde abrir um Seminário, para formar Missionários destinados ao estrangeiro. As vocações entre os homens e as mulheres são numerosíssimas. Estão preparando, agora, um exército pacífico de apóstolos para penetrar em toda a Ásia. Tudo isto me leva a crer que é a maior realização alcançada. Mas, devo dizer-lhe que, em outros lugares, se passa o mesmo.
Na Islândia, aconteceu algo maravilhoso, quase "impossível": Quinze pessoas estão a ser religiosamente instruídas. Toda a atmosfera da ilha está impregnada de catolicismo. O que se conseguiu, na China, foi verdadeiramente prodigio.
Provavelmente, o Sr. entrevistará o Revmo. Pe. MacGrath. A Legião foi ali fundada, pouco tempo antes da vitória dos comunistas. Seu poder de irradiação foi tal parecia um alude. Essa figura extraordinária, S. Exa. Revma. o Sr. Arcebispo Riberi informou o Papa de que a situação, na China, era de intenso otimismo, pois estávamos perto de uma conversão em massa. O grande problema era o da instrução religiosa. Não faltavam convertidos. O difícil era a catequese. Como disse esse homem extraordinário: "A nota dominante deve ser o otimismo".
Sobrevejo, então, um desses invulgares reveses que Deus permite; e tudo desaparece. A Legião é perseguida até a morte e extermínio e todas aquelas brilhantes perspectivas são aniquiladas. O Sr. não pode compreender, mas há coisas importantes, atividades da Legião que afetam países inteiros. Em nossas modalidades de ação, há novos trabalhos introduzidos pela Legião.
Ele mostrou que qualquer leigo, mesmo o mais simples, é capaz de ser apóstolo. Antes, ninguém sonhara com isto. Eu diria até que o Vaticano II representa um ato de fé na Legião. Ali se legislou sobre mobilização do Povo de Deus. Pois bem, sem a Legião, é um projeto inútil. Não se mobiliza o Povo de Deus para o apostolado, levando um grupo de pessoas tratados sobre qualquer coisa. Isso não é mobilização do Povo de Deus!
Temos que captar todas as pessoas até as mais simples e incultas. Aí está o grande êxito da Legião de Maria: a mobilização daquelas pessoas que o mundo considera incapazes para o apostolado. Elas aí estão, em nossas fileiras. E, nós não nos gloriamos das princesas e de outras pessoas notáveis que também são das grande fileiras, mas dessas pessoas humildes do mundo. Elas são a nosa principal riqueza. O Papa Paulo VI disse: "Aquilo de que gosto mais, na Legião de maria, é que ele sabe utilizar as pessoas de humilde condição social".
A.N. - Muito bem! Gostaria, entretanto, de lhe fazer, por hoje, uma última pergunta. Que me diz da Legião, como fazedora de Santos?
F. DUFF - Como quê ... ? Como forja de Santos? Uma pergunta que se justifica. A Legião ensina a Legionários e dá-lhes capacidade de compreenderem as grandes verdades de fé católica, tais como a doutrina do Corpo Místico que, segundo S. Tomás de Aquino, é a doutrina central da Igreja; a maternidade de Maria e o extraordinário ascendente de Nossa Senhora sobre o Espírito Santo.
Temos de lançar mão de uma expressão tão extraordinária, como esta, para denotar a verdade. A Legião ensina estas coisas, santas e santificantes, a todos os seus Membros. Estas coisas fazem santos e granel. E fazem-nos, hoje mesmo; esta é a verdade. Por si mesma, a Legião poderá resolver o problema das vocações para a Igreja.
A.N. - Obrigado, Senhor Duff, por estar conosco e por nos dar tão bela entrevista. E também pelas informações proveitosas para os Legionários do mundo inteiro. Obrigado.
F. DUFF - Obrigado, também, Al Norrel, pela habilidade com que dirigiu as perguntas e pela paciência que teve para com as minhas respostas. (Risos ...).
Tradução de "Maria Legionis"
por Yolanda Vieira Ribeiro (Presidente do Senatus Rio de janeiro)
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