Quando estudei a História do Brasil, enxergava os
personagens – Cabral, Tiradentes e os demais – como gente tão distante, que
pareciam não ter nada a ver comigo. Só mais tarde entendi que o brasileiro de
todos os tempos faz parte de uma só e mesma caminhada. E que, portanto, estamos
continuando uma história de 500 anos, que é a nossa história!
A mesma experiência
você deve sentir ao pensar na História da Salvação, que encontra na Bíblia.
Por que somos chamados “discípulos missionários”? Não será porque no final da
história bíblica saem de cena Jesus e os Doze com seus auxiliares, entrando em
ação a Igreja dos séculos sucessivos, até chegar a nossa vez de cumprir a mesma
missão de receber e propagar a fé?
Sim, estamos continuando a História da Salvação. Os
acontecimentos dessa História ressoam em nossas vidas. Os dois Testamentos –
Antigo e Novo – são o começo da nossa história, a história da nossa família
cristã, e por isso devemos reviver os fatos bíblicos como que tomando parte
neles. Isto é bem fácil nas grandes datas do Cristianismo, como Natal e
Páscoa. Mais do que apenas recordar, vivemos aqueles mistérios colocando-nos
dentro deles.
A catequese litúrgica da Vigília Pascal nos insere com rara
felicidade no evento da Páscoa hebraica e da Páscoa de Cristo. O que Deus fez
pelos personagens bíblicos, continua fazendo para nós hoje. É o que afirmou
Santo Agostinho: “Vós todos que renunciastes ao mundo do mal, realizastes
também vosso êxodo”.
Dt 6,20s esclarece o que quero dizer: “E amanhã, quando teu
filho te perguntar: ‘Que significam estas leis e estes costumes...?’
Responderás: ‘Éramos escravos do faraó no Egito, mas Javé nos tirou do Egito
com mão poderosa...’”. Repare nesta resposta do pai, que se repete nas páscoas
judaicas até hoje. Não diz “nossos pais eram escravos”, mas “éramos escravos”;
não diz “Javé os tirou”, mas “Javé nos tirou”, atualizando o fato para incluir
a presente geração, o mundo atual.
Isto é um convite
para a gente adentrar a história bíblica como se estivesse dentro dos fatos
narrados. Experimente sentir-se como um dos caminheiros guiados por Moisés,
como um dos construtores do templo de Jerusalém, como um exilado em Babilônia,
como um ouvinte do profeta Jonas em Nínive, como um fiel perseguido no tempo dos
Macabeus, como alguém presente ao Sermão da Montanha, como membro de uma
comunidade fundada por Paulo... Dê asas à sua imaginação. E pergunte: O que eu
faria nessas várias situações? É um modo bem atual de ler a Bíblia.
Pe. José Raimundo Vidigal, C.Ss.R.
Rio de Janeiro, RJ – Setembro/2014
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