Seminário significa sementeira. Semeadura de vocações
sacerdotais. É meio institucional educativo de formação e de educação, remota e
imediata dos futuros padres. Por extensão, de bispos a serviço do Povo de
Deus. Além da seleção dos candidatos,
tem como objetivo a formação intelectual, espiritual e pastoral dos mesmos. Em
síntese, esta é a importância do seminário.
Entretanto, é preciso
situá-lo na sua origem tridentina, no contexto eclesial e social daquela época
de mudanças profundas e incontroláveis contra o regime da cristandade, único
até então conhecido. Parecia urgente aos bispos e ao Papa reformar a Igreja “na
cabeça e nos membros”, como se dizia e como advertiam e solicitavam homens e
mulheres, santos e santas, que sentiam e sofriam com a situação da Igreja.
Precisava de instituição formativa que fosse sólida, permanente e universal
para os nobres fins propostos. No parecer comum, sem o seminário não seria
possível sacerdotes virtuosos, santos e abnegados, voltados somente para sua
missão pastoral e santificadora.
Dentro desta
perspectiva, tratava-se não de contrarreforma, como ainda se diz em livros de
História, para enfrentar o perigo e o aumento do protestantismo, mas de reforma
católica autêntica e pertinente. A tão desejada e, em grande parte, já
empreendida por fundadores de ordens e de congregações religiosas, masculinas e
femininas. Muito devemos a eles e à aplicação do Concílio de Trento, o que
equivale dizer à ereção de seminários menores e maiores para a formação do
clero.
Além dos apelos
internos, havia as pressões externas, ou seja, a política e o interesse dos
príncipes e reis, e as rupturas dolorosas causadas pelo protestantismo
devastador. Logo mais tarde, também pelo anglicanismo. Quase que de surpresa e
de impacto, se não considerarmos as causas remotas internas, rompera-se a
unidade eclesial e social e política e econômica da cristandade. As mudanças
rápidas e violentas tiveram desdobramentos dramáticos. Geraram disputas
fratricidas e lutas religiosas, inclusive no campo da interpretação das
Escrituras e da fé. Parecia o caos, solapando a ordem. A “túnica inconsútil” do
Salvador, mais uma vez, era lançada no jogo de interesses para ver com quem
ficava alguma parte, interesses mundanos misturados aos de genuína purificação.
No Brasil, devido ao
regime do padroado a unir a Igreja ao Império, o protestantismo não vingou
desde a colonização. Entretanto, a reforma tridentina só entrou de cheio com a
proclamação da República pela separação da Igreja e do Estado. Veio com atraso.
Significa que o clero da colônia e do império não era formado, segundo os
ideais da reforma católica. Faltavam seminários que respondessem às
necessidades. Os padres entregavam-se ao ministério, após sucinto e talvez
defeituoso estágio de preparação, no paço episcopal ou junto a um sacerdote. A
preparação intelectual acontecia em colégios dos jesuítas que, como sabemos,
eles foram expulsos pelo Marquês de Pombal.
Só os que vinham de famílias abastadas estudavam na Universidade de Coimbra.
Além disso, faltava programa de estudos, experiência pastoral e formação do
caráter e da vontade.
Portanto, a
importância da fundação do Seminário do Rio de Janeiro, o primeiro do Brasil,
explica-se igualmente pelo contexto nacional e internacional da época. Não só
por sua nobre finalidade. Havia ainda desestímulos, entre os quais a falta de
recursos humanos e financeiros. Havia a extensão diocesana, entregue a um bispo
só com poucos padres: o litoral brasileiro, desde a Bahia até os confins do Rio
da Prata.
Dom Frei Antônio de
Guadalupe, OFM, quarto bispo da Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro,
enfrentou tamanhas dificuldades ao fundar o Seminário São José¹. Portanto, com o Seminário celebramos não só o
passado em tantos anos. Celebramos o presente. Celebramos o futuro que vem
chegando. A recordação é festiva e agradecida. Também empenhadora diante do
legado desafiador de formar e educar sacerdotes, para o mundo contemporâneo, no
espírito renovador e dialogante do Concílio Ecumênico Vaticano II. Com a graça
de Deus e o estímulo da história!
¹ (O Seminário São José completou 275 anos em 2014)
Dom Edson de Castro Homem
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do RJ
Assistente Eclesial da Legião de Maria junto a CNBB